Quando Maranhão bateu a porta de Verônica ele não queria nada mais do que lhe falar uma única verdade.
Sentiu certo calafrio enquanto aguardava o “recepcionamento” da mulher que brevemente saberia o motivo pelo qual ele estava ali.
Sentiu certo calafrio enquanto aguardava o “recepcionamento” da mulher que brevemente saberia o motivo pelo qual ele estava ali.
Demora.
Uma demora quase insuportável ao tenso homem que passava a mão em sua barba cerrada, com voracidade.
A porta é batida com mais vigor dessa vez.
Além de sua barba, agora seus cabelos ralos também são esfregados por essas mãos calejadas pelos tijolos e brigas de botequins. A maldita porta continua imóvel. Maranhão se estica para olhar dentro da casa, por uma janela ao lado da porta, mas a cortina que tantas vezes já escondeu atos de amor proibidos de um casal apaixonado, o atrapalha a concretizar sua vontade.
Maranhão vai até a calçada angustiado.
Não para de coçar sua cabeça pelo nervosismo, chegando às vezes até ferir-se por tamanha força imposta por suas mãos desacostumadas a toques singelos. Ele olha de um lado para outro sem ver nada, seu raciocínio momentâneo concentra-se apenas em encontrar Verônica para lhe dizer tudo.
Um copo de cachaça o é entregue pelo balconista de uma cabeça de porco que fica na esquina da casa da mulher esperada. A bebida é tomada em um único gole. Depois de pagar ele retorna à frente da casa.
A hora é perguntada a uma mocinha bonita que passa pela calçada.
“Sete e vinte e sete da noite.” Uma sensação horrível de desconforto domina o corpo desse homem. Ele retorna a porta que é batida com mais violência agora. Parece não haver ninguém mesmo na casa. “Mais um copo de birita deve ajudar a acalmar-m”, assim pensa ele.
Depois de mais duas doses Maranhão retorna a porta de Verônica.
Seu santo protetor é objurgado pelo motivo de ele não conseguir ver a mulher que tanto precisava ouvir seu relato desesperado.
A desistência parece ser sua única saída sensata.
Parado na calçada ele afasta as pessoas por conseqüência do cheiro emanado de seu corpo cansado da labuta perene.
Maranhão começa então a caminhar em direção a sua casa. Durante o trajeto uma dor é sentida por ele. Lhe dói a nuca. Suas mãos esfregam a parte dolorida. Extrema força é usada por ele.
Uma senhora carregando sacolas de mercado, que passa pela mesma calçada, em sentido contrário, pergunta se ele necessita de ajuda. Com um breve grunhido e um bater de mãos ele responde negativamente para a dona de casa, que prossegue seu trajeto. Escorando-se pelos muros das casas ele caminha.
A dor aumenta.
Mais preocupado Maranhão fica, chegando a ponto de procurar a senhora que lhe oferecera ajuda a instantes.
Depois de ver que a mulher com as sacolas não está mais a vista, ele vira-se novamente para a direção que seguia anteriormente. Mas no seu retorno ao antigo caminho, uma vertigem exorbitante o contempla fazendo-o tombar ao chão.
A dor persiste.
A dor aumenta.
Sua testa é franzida com força. Seus olhos apertados não enxergam as pessoas que passam a distancia por pensarem que se trata de um mendigo bêbado.
Os sinais em seu corpo, feitos pelo seu trabalho, dão a impressão de que o pobre infeliz não passa apenas de um vagabundo, que passa seu dia em botequins, enchendo a cara de cachaça.
08/06/06
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